Seja entre amigos de longa data ou desconhecidos, uma boa conversa amigável é sinal de uma interação social saudável, no entanto, quando uma das partes acaba por tomar o monopólio da conversa para si, temos um problema em mãos.
Uma conversa
é uma troca de informações e experiências onde ambas as partes envolvidas têm
direito a contribuir para o bom andamento da mesma, pois não se trata de uma
competição a respeito de quem fala mais, mas sim de um esforço colaborativo.
E como numa
via de mão dupla, se algum motorista desavisado cometer um erro, ambos os lados
pagam o preço.
Pagando Pedágio
Umas das
características mais marcantes dos autistas, o hiperfoco é aquele interesse especial que nos faz esquecer quase
tudo em prol de mais conhecimento a respeito de nossa mais nova obsessão.
Assim como
indivíduos neurotípicos, amamos compartilhar tal conhecimento com as pessoas a
nosso redor, jorrando nelas uma tonelada de dados e curiosidades a respeito do
tal interesse, mesmo que nossos ouvintes
não tenham pedido por tal aula.
O imaginário
popular associa a palavra “autismo” á uma série de estereótipos datados, sendo
um deles o mito do “autista tímido”.
Geralmente tal estereótipo é
acompanhado de outros, como a pele branca, a inteligência acima da média e uma classe social vantajosa.
E ao
contrário do que o imaginário popular prega, autistas podem SIM ser muito comunicativos
e verbais, o que não é um problema em si, mas acredito que falar muito não significa
falar bem.
Adaptar
nosso discurso à ocasião se torna um grande problema quando estamos no auge de
nosso interesse em relação a algum tema específico, pois sentimos uma vontade
quase que incontrolável em compartilhar nosso conhecimento com o mundo, o que
pode acabar com conversas até então amigáveis e, caso tal situação não seja
contornada a tempo, pode estender seu poder destrutivo às amizades.
Vias Expressas
Amamos falar
sobre nosso interesse especial: cada hiperfoco novo significa um mundo de
informações novas e muito interessantes e nos sentimos muito bem quando podemos
compartilhá-las com as pessoas, especialmente nossos amigos.
Para os autistas
tímidos, representa uma rara oportunidade de finalmente conversar livremente a
respeito de algo que realmente gostamos e não ser arrastado a mais uma conversa
que não nos interessa nem um pouco.
Interromper
nossas “aulas” a respeito de algum hiperfoco de nosso interesse seria como ser
censurado nos raros momentos onde nos sentimos livres das amarras sociais.
Por isso entendemos
mais do que ninguém o quão ruim é ser obrigado a participar de uma conversa nem
um pouco agradável, logo, em vez de mudar o assunto e interromper um autista em
seu raro momento de expressão, porque não buscar um meio-termo?
Tente
direcionar a conversa por um caminho que complemente o assunto sendo abordado
por ele, por exemplo: se ele estiver em um monólogo a respeito de “trens”,
experimente falar sobre alguma experiência sua envolvendo o assunto.
Você ficaria surpreso com o tanto de coisas “obscuras” e incríveis que você também sabe e não fazia idéia que conhecia.
Trânsito Seguro
De segunda a
sábado, o trânsito nas grandes cidades brasileiras promove uma série de eventos
que renderiam ótimas reflexões a respeito da natureza humana:
Buzinas de
todo tipo formam uma sinfonia de “bips” típica das manhãs de segunda-feira,
onde todos os presentes saíram de seus respectivos Pontos A buscando chegar a
seus Pontos B a tempo, no entanto, se encontram presos entre as duas letras de
um alfabeto rico em letras.
Tais letras acabam por usadas na
confecção de todo tipo de palavras, geralmente buscando convencer algum
viajante do ponto A ir tomar algo em algum lugar no Ponto C.
E como no trânsito caótico das cidades brasileiras, nossas conversas podem acabar sendo poluídas pela falta de educação no trânsito de palavras cotidiano.
Em outra
semelhança com o trânsito municipal, as conversas entre neurotípicos e autistas
podem criar verdadeiros “engarrafamentos de ideias” onde ninguém consegue sair
do ponto A em direção à B de forma natural e eficiente.
Neurotípicos tem o “dom” de direcionar
conversas como ninguém, use esse poder para ajudar seu amigo aspie a encontrar
o caminho das pedras rumo a uma conversa agradável para ambos.
No trânsito
de idéias que percorrem as avenidas verbais, a educação e bom-senso salvam
tempo perdido no engarrafamento de conversas sem rumo (e algumas idas ao Ponto
C).
Em muitos
casos, também evita atropelamentos.
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