❝Naquele dia, quando as estrelas caíram, era como se fosse uma cena de um sonho. Nada mais, nada menos que uma bela vista. ❞
Chuva de Caracteres
É incrível como consigo
redigir textões de duas, três mil
palavras sem pestanejar.
Infelizmente, tanto o Deus
Google como as redes sociais parecem odiar qualquer coisa que se atreva a
ultrapassar tal limite astronômico de caracteres.
Vez ou outra se vê alguns
poucos textões dando as caras nos trending topics, no entanto, tal evento
é tão raro quanto à chuva de meteoros
acontecendo no momento em que tal pergaminho é redigido.
E um dos requisitos básicos
para um determinado texto sair da sarjeta digital e rumo ao topo dos feeds é falar como pessoa, para
pessoas.
Considerando que tais textos
são humanos, logo, podemos inferir que os mesmos estão sujeitos aos mesmos
vícios, fraquezas e corrupções que um ser humano médio enfrenta ao longo de sua
curta vida inútil.
E na era digital, textos não têm uma expectativa de
vida japonesa.
Se assim fosse, este texto
seria escrito em kanjis.
Saiba que os kanjis ainda não terminaram. Assim como a herpes que você vai
pegar nesse carnaval, tal referência vai voltar a dar o ar da graça de tempos
em tempos.
Sucos Sino-espaciais
Apesar de sua fama como “suco dos astronautas”, o Tang não fora criando tendo gravidade-zero em mente.
A marca já existia muito
antes dos americanos enfiarem sua logomarca num pedaço de pedra sem graça.
Não, não
O tal suco foi lançado bem
antes disso, cerca de uns 10 anos antes para ser mais preciso.
Em 1959, o mundo ocidental se encontrava numa fase de transição e a década seguinte estava prestes a virar tal mundo de ponta-cabeça (especialmente para os astronautas).
Mas o mundo não se resumia a Elvis Presley e sucos
industrializados.
No outro lado do império do
Tang americano, uma China otimista pegava impulso para saltar 10 anos em direção
a um futuro (supostamente) esplendoroso.
Esperava-se que tal salto
levasse à China de Mao a pior rumo
um paraíso Marxista, onde todos teriam acesso à saúde, educação e Tangs de
qualidade.
O que se seguiu fora uma série de mal-entendidos de proporções dantescas.
Multiculturalismo gAstronômico
No lado alcoólico da Cortina
de Ferro, em outro erro grosseiro de interpretação, alguns russos levaram o
conceito de “hot-dog” muito a sério e
acabaram preparando o primeiro cachorro-quente vivo em gravidade-zero de que se tem registro na
história.
Já na China, quem levou
conceitos gramaticais ainda mais ao pé da letra foram os comunistas ao forçarem
60 milhões de pessoas a saltarem rumo ao precipício Maoísta.
Os americanos, sempre vaidosos,
não quiseram ficar de fora essa versão extrema do “Soletrando” e perder para
meros acrobatas de olhos-puxados.
Decidiram enviar logo uma
tripulação de homens brancos, héteros e patriotas - munidos de câmeras e
pacotes de suco Tang - rumo a um pedaço de pedra tendo como único objetivo
provar para o mundo inteiro que a bandeira americana era a mais legal de todas,
pois esta tinha mais estrelas que a bandeira chinesa e soviética somadas.
Como ninguém estava esperando
por tal jogada de marketing por parte da Tang - e por tal coisa
em nada se assemelhar ao jogo gramatical anterior - todos decidiram parar de
brincar com palavras e voltar a brincar com armas de destruição em massa.
O Império Não Contra-Ataca
O nome Tang, antes de ser corrompido pelas forças do mal capitalistas, era mais conhecido por dar nome a um dos impérios mais magníficos da história.
Cerca de 620 anos após pregarem
um cara numa cruz por dar exposed em alguns charlatões, um ambicioso Jedi decide se rebelar contra um Império decadente.
O Império de Sui, corrompido pelas extravagâncias de um imperador hipster, enfrentava seus últimos dias de
vergonha-alheia na terra quando nosso herói decide dar-lhe o golpe de
misericórdia, dando fim a uma era cringe
demais para ser lembrada.
O golpe, contudo, não fora
literal e para evitar os enormes banhos de sangue típicos das guerras civis
chinesas, o Jedi decide por usar a “força” no seu sentido mais metafórico
possível, obrigando o Imperador a viver de auxílio-paletó em algum lugar nos
confins da galáxia civilização.
O nome do nosso herói?
LI Yuan
Mas a história se lembra dele
pelo seu cargo anterior: duque de Tang.
Seja por querer aproveitar o branding poderoso que seu título de
nobreza lhe conferia - ou por gostar muito de sucos em pó - o Jedi chinês de repente se via com o
caminho livre para governar uma das mais ricas regiões do mundo até então
conhecido: o vale fértil chinês.
Com o passar das décadas,
nosso herói consolidou e expandiu seu poder para além das fronteiras imperiais
de então, conquistando povos alienígenas estranhos aos chineses do tal vale.
Munido com dinheiro e poder
advindos de tal expansão, nosso bravo e sábio herói, num movimento que pegou muitos
historiadores de surpresa, decide abdicar das extravagâncias de governos
anteriores e investir pesado nas artes, no comércio e na expansão militar de
seu império.
Tal cálculo matemático genial
serviu como inspiração para seus descendentes, que desde então exercem domínio
total sob as ciências exatas como forma de homenageá-lo.
Resultado: o maior e mais rico império já visto pelos
chineses até então.
Tamanho sucesso fez com que
seu império passasse a ser visto como o mais legal e famosinho da região, o que
fez muitos outros ao seu redor pagar pau
e invejar tais conquistas.
Mas sua força militar impedia
qualquer império invejoso de dar-lhe a rasteira, o que os obrigou a fazer o que
os fracos fazem de melhor:
Copiar.
O Império Tang era de longe o
mais belo, rico e popular da época.
E todos queriam ser como ele.
As Marés do Sol-Nascente
Separadas pelo mar, as civilizações chinesa e japonesa eram gêmeas na aparência e univitelinas no esplendor.
Estrelas sempre despertaram
um grande fascínio no ser humano: são lindamente reluzentes, convidando-nos ao
seu brilho divino ao mesmo tempo em que mantêm uma distância aparentemente
impossível de ser transposta.
Estrelas eram frequentemente associadas ao feminino.
Os gregos antigos chegaram mesmo
a emprestar (sem autorização) o nome da sua deusa da beleza ao planeta mais
próximo da Terra.
Tal empréstimo acabou entrando para a história como o
maior calote já aplicado e a tal deusa finalmente se vingou dos gregos ao
cobrar tal dívida em meados de 2009.
As mulheres, assim como as estrelas,
irradiam uma espécie de brilho divino, um poder sedutor que encanta e hipnotiza
homens de forma impressionante.
E como suas irmãs
celestes, mulheres também são capazes de ser inalcançáveis.
Um sujeito muito esperto
certa vez associou o olhar feminino a ressacas marítimas, em uma comparação
cujo real significado inunda salas acadêmicas com debates eruditos e estes
acabam por desaguar em mesas de bar por todo o país, gerando em ambos os
lugares um tsunami de discussões (muitas vezes acaloradas) a respeito de quem
traiu quem nessa história toda.
Longe das mesas de bar brasileiras, a terra do
sol-nascente possui seus próprios problemas com o mar.
Enfrentando de tufões a
terremotos, a civilização nipônica refuta há séculos qualquer tentativa de ser
vencida no eterno debate contra a Mãe-Natureza.
Apesar de sua aura de tradição milenar, o Japão já fora um grande plagiador cultural.
Lembra do Império Tang e seus imitadores?
Nesses tempos, os japoneses
nem mesmo tinham uma escrita para chamar de sua, e muito se especula como eles
se comunicavam entre si sem o uso de caracteres.
Alguns especulam que eles se
comunicavam de forma semelhante a seus discípulos atuais, fazendo isso de imagens
sem sentido e gírias obscuras.
Historiadores com alguma reputação a zelar, no entanto, acreditam que a escrita japonesa surgiu cerca de
oitocentos anos após uns caras de saia finalmente terminarem de pregar aquele exposer no tal pedaço de madeira.
Com base em mangás
textos da época, sabemos que os japoneses antigos eram amantes da cultura pop
chinesa, copiando desde suas vestimentas até seu modo de governo, tornando-se
um estado-vassalo chinês por pura falta de originalidade.
不見目!
Seu Nome
Kimi No Na wa, lançado em 2016, é uma animação de longa-metragem
japonesa com um enredo incrível.
Na trama, acompanhamos a
estranha jornada de dois personagens de sexo e motivações opostas:
Mitsuha Miyamizo é uma jovem adolescente que mora no
idílico interior japonês e sonha em largar tudo para morar na cidade grande.
Em
contrapartida, Taki Tachibana é um jovem rapaz natural
da capital japonesa e sonha com uma vida pacata no interior do país.
Ao
longo do enredo genial de Makoto Shinkai,
assistimos ambos os jovens passando por uma experiência bizarra:
Ambos
se vêem presos num loop de troca de corpos:
O
rapaz acorda no corpo da mocinha, tendo seu sonho de morar no interior finalmente
atendido, mas como todo bom otaku, este
logo se aproveita da situação para apalpar um belo par de seios pela primeira e
única vez na vida.
Já a
mocinha percebe que os animes mentiram para ela durante toda sua vida e que a
vida real na maior metrópole do mundo se resume a trabalhar duro e pagar
boletos.
Tudo isso num troca-troca de corpos caótico cujo significado faria qualquer russo pensar besteira.
Para
evitar dar spoilers e evitar o choro
(precoce) de algum leitor desavisado, irei falar apenas brevemente sobre o enredo
da trama.
Durante o filme, o Japão vê-se finalmente vencido por um argumento irrefutável por parte da Mãe-Natureza e nada pode fazer a não ser aceitar sua derrota no debate de proporções cósmicas.
O argumento em si
era genial, pois consistia em se disfarçar de mulher e atacar todo mundo com as
calças curtas, num golpe tipicamente feminino.
No
fim da trama, esta decide se emaranhar de forma confusa e deixar qualquer um
boquiaberto com tamanha capacidade elástica, transformando o que era um mero
filme romântico para otakus carentes
numa das mais belas obras da história da animação.
Como
disse antes, não irei roubar sua surpresa e estragar o final.
Assista.
De preferência,
sem pensar no ex.
Tecendo Linhas Temporais
Kanjis fazem parte de um triunvirato de alfabetos que comandam o idioma japonês com mãos de ferro.
O mais antigo deles, o Kanbun, data de 800 D.C (sim, é da mesma
época do Tang chinês, mas isso é apenas uma coincidência, seu chato).
E como você já deve saber,
este se trata de uma cópia descarada do alfabeto chinês na época em que ser
chinês era a coisa mais legal do mundo.
君の名は
Eis o famoso kanji que estava aguardando ser revelado
durante toda essa jornada pela história sem sentido abordada ao longo do
texto.
Nada mais é que o nome do Seu Nome, o filme romântico e sem
sentido abordado no capítulo anterior.
Esse textão aqui, assim como o filme, dá várias voltas e reviravoltas
para chegar ao ponto principal e compartilhar sua mensagem com o mundo.
E como na trama japonesa,
esse texto busca transmitir uma mensagem clichê e ao mesmo tempo importante:
Que a passagem do tempo é invencível e inevitável. Que
mesmo que você vença alguns debates contra seu maior inimigo atual, ambos
serão, inevitavelmente, reduzidos de volta a pó estelar.
O tempo é o maior agente
transformador do universo, capaz de transformar a menor das estrelas numa
Supernova de proporções inimagináveis.
E transformar tais Supernovas
em buracos-negros capaz de sugar a mais brilhante das Supernovas para dentro si.
O universo é um lugar
medonhamente vasto, onde nem mesmo a coisa mais rápida que existe, (fofocas)
A LUZ, consegue percorrê-lo a tempo
do chá das cinco.
O que faz com que estrelas distantes fiquem presas
para sempre em poses estonteantemente femininas.
Essas musas estelares possuem
sua beleza registrada pelo mais fantástico dos fotógrafos.
O Tempo.
チーム
As imagens incríveis que
vemos de estrelas de nêutron, galáxias e, mais recentemente; buracos-negros são
pequenos recortes de um passado longínquo presenteados a nós pela dádiva do tempo.
Seu poder avassalador não
respeita fronteiras, credo ou gosto
musical.
O tempo possui o poder de nos
presentear com momentos incríveis ao lado de pessoas tão incríveis quanto.
Mas também é capaz de nos
fazer passar horas sofrendo de saudades por essas pessoas e os momentos que
passamos juntos a elas.
Tempo esse que já passou e nunca mais irá voltar.
E é justamente essa escassez
impossível de ser contornada que torna o tempo o maior presente dado à
humanidade por Deus, Allah, Shiva ou
qualquer que seja sua crença.
Os momentos compartilhados com as pessoas
que você ama serão o bem mais precioso que você irá receber durante sua
curta passagem por esse plano existencial.
Ruins ou bons, na pobreza ou
na riqueza, na saúde ou na doença
Até que o tempo os separe.
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